sábado, setembro 23, 2006

Elo

Estava ali na noite concentrada em coisas pessoais demais para adentrar no ofício embora a escrita teimasse em gotejar aquele conteúdo obscuro de si.


_Quem é você?
(despretensiosamente)


Nada que soubesse. Vi na forma algum mistério envolvente por ser nua o suficiente para se fazer invisível à percepção concreta. Talvez porque aquilo que me fosse mostrado fosse sentido em sua forma mais real e, portanto, mais palpável que o quê estava acostumada a tocar. Não, não era coisa diferente. Era coisa igual. Redescoberta... E pela primeira vez foi o igual que causou surpresa, foi o igual que causou comoção, foi o igual que gerou o encanto. Um intenso movimento interno em face de serenidade. Transparência bruta pela sinceridade crua e convicta, calejada na rudeza dos passos diários. Aqueles calos gritaram. Já não era somente uma condição casual. Foi um reencontro de um oposto único que pertencia ao equilíbrio distante do mutismo com a tagarelice, do surto com a lucidez, da mente com o corpo, da noite com o dia. Coisa que o tempo havia se ocupado de desequilibrar na tendência. Recuperado.

Intimidade foi algo ocasional. Não a esperava. Talvez por isso ela me invadiu sem a vigília da cautela. Apareceu sem o pudor das formalidades e, despindo-se, ofereceu-me confiança naquilo que sentia: que pessoas se aproximam pela igualdade das diferenças.

Espectro em minha tela de espelho... Faz-me olhar de fora a dentro com toda a liberdade crítica de meus pensamentos e toda a intensidade verídica de meus sentimentos, sem a ganância do suicídio psíquico solitário. Reconhecer e desconhecer em cada linha escrita ou omitida. Porque também me omito e me exponho de forma cíclica e não controlada. Variações humanas... Exercitar emoções e calos e falas. O elo. A troca. O entendimento.


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