segunda-feira, novembro 13, 2006

Desarmada


"_ Estive eu doente? Já estarei são? E quem foi então meu
médico? Como esqueci de tudo isso!
_ Somente agora acredito que estejas são: Pois estamos sadios
quando esquecemos."
(Friedrich Nietzsche - A Gaia Ciência)


Fez tudo que não era saudável fazer. Sonhou seus dias. Passou acordada suas noites. Reencontrou nunca tendo perdido. Perdeu nunca tendo encontrado. Sentiu-se preenchida ao encontrar o vazio do papel, e escreveu-se em letras graúdas espaçadas todas aquelas suas verdades inomináveis, sempre atenta às normas gramaticais. Foi feliz.

Intencionou fazer das letras um punho fechado quando sentiu o amargo da cegueira coletiva ofender a sinceridade gráfica. Feriu. Feriu-se, e tornou-se manualmente muda, calada pelo medo refém da arma Palavra. Encheu então a lixeira de lembranças pensando lá decomporem suas letras com o tempo.

Sempre fora de guardar entulhos. Grave defeito. Pois acabou voltando àquela lixeira com propósito de esvaziá-la sem, no entanto, resistir a separar algo talvez reciclável.

Releu suas letras, encarou suas verdades, reviveu seus sentimentos, sentiu saudades. Chorou. Borradas, perderam-se.

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