terça-feira, agosto 29, 2006

Estados

Não há interrogações que escondam a intimidade da escrita. Nem música que não traga lembranças.

Perguntas dizem mais que respostas.

Tanto faz o sim, o não, o onde ou o porquê quando as reticências abrem caminhos, e as possibilidades só precisam de motivos para se tornarem fatos.



Ask - The Smiths

sábado, agosto 26, 2006

Traços

A vida nos apronta surpresas. Nada tão legítimo quando nasce do acaso a certeza de que caminhos se cruzam por serem rotas, pessoas se encontram por serem partes. Olhos reconhecem traços de afeto em faces desprotegidas. Não há armadura quando o instinto é bruto o suficiente para amar.

Quilômetros são transpostos suavemente quando o tempo fica congelado no olhar.

quinta-feira, agosto 24, 2006

Vinte e Seis


Enquanto isso
Anoitece em certas regiões
E se pudéssemos ter a velocidade para ver tudo
Assistiríamos tudo
A madrugada perto da noite escurecendo
Ao lado do entardecer
A tarde inteira logo após o almoço
O meio-dia acontecendo em pleno sol
Seguido da manhã que correu desde muito cedo
E que só viram os que levantaram
Para trabalhar no alvorecer
Que foi surgindo
Enquanto Isso - Marisa Monte

domingo, agosto 20, 2006

Manual de Instruções

  • Para se criar um mal-entendido é preciso todo o silêncio do mundo.
  • Há várias formas de se dizer uma mesma frase; a intenção é correlativa.
  • Não existe certo e/ou errado; existem motivos.
  • Solidão vem do sentimento de exclusividade.

(Baseado em fatos reais. E na obra-Prima Nanam.)

sexta-feira, agosto 18, 2006

Ainda lembro

... que o vento sopra sempre a favor da fumaça.
... que vira-latas correm quando se tenta um afago.
... que duas colheres de pó fazem um bom capuccino.
... e que o tempo não pára.

Mas nem todo vento é sul. Nem todo afago é bom. Nem toda duas faz um.
Pela relatividade do tempo no agora. E ainda é cedo...

segunda-feira, agosto 14, 2006

Esquerdos autorais ®

Meu cabelo de fios assanhados por travesseiros ombros. Meus dedos de anéis ímpares. Minha respiração noturna no canto esquerdo suado. Meu olhar castanho de cão. Meu pé amendoim. Minha calça branca com café. Minhas celulares imagens. Meu gorro branco par do capote. Meu talharim com atum. Meu chaveiro dálmata. Minhas pantufas dino. Meu trailler 1301 com um quarto 88. Meu capuccino caseiro em caneca matinal. Meu band-aid de emergência na mochila. Meu moletom vermelho. Minhas canetas laranja ponta-fina. Minhas cartas com letra de fôrma. Meu pijama lagartixa. Minhas palmas contra a timidez do xixão. Minha geladeira com figurinha torta. Meu armário entulhado de inutilidades. Meu cinzeiro de pedra vazio. Minhas pernas roxas depiladas. Meu desastrado amor.

É como se minha vida tivesse direitos autorais. Não meus. ™
As relações se perdem pelos Direitos.

~>meu pé direito<~

[foto: Rocca Stockler]

terça-feira, agosto 08, 2006

Monólogo de Dois

Segundos deslizam treze andares enquanto os olhos afogados procuram superfície. Saio e nada vejo. Mas sinto o cheiro esquivo impregnado no ar escuro do corredor vazio, e o eco da voz gelada que se repetia ao longe como uma conversa solitária, que seguia se enfraquecendo até se perder entre desentendimentos típicos.