segunda-feira, outubro 30, 2006

Naufrágio



Quero um poema úmido. Uma mensagem náufraga. Algum frescor interno de terra distante.

Na claridade da dúvida sentir a alma transpirar a sede de entrega. Despedir-se lentamente e, com cega convicção, caminhar em águas profundas.

Mergulhar sem medo, sem propósito, sem limites, sem destino. Sem fim.

Ver a vida inundar, envolver as secas partes, ter nas mãos o ar do último suspiro. E neste desespero encontrar o mergulho refrescante em mim.

domingo, outubro 29, 2006

Contigo Comigo ®

Palavras sucessivas tentam, em vão, descrever o indescritível.
Não há peso nem elo, só carinho fluindo no branco fundo da lembrança.
Imagens mostram em silêncio o invisível
Da realidade que não sei como falar.

Dias cinzas em verdes letras passam de repente.
Encontro rastros antigos naquele que foi seu lugar.
Almofadas embaralham pensamentos fluidos
Onde antes me cobria um castanho, perro olhar.

Minha camisa estampada com botões iguais
Diferentes sentidos numa mesma linha torta
Contigo comigo cravado no 1301, minha porta
Que diante de cada esquina, beco e avenida sina parece dizer
"Ainda lembro".

quinta-feira, outubro 19, 2006

Insight

"Penso que sou a pessoa mais solitária que existe. Isso não tem nada a ver com a presença dos outros. Na verdade, odeio quem me rouba a solidão sem em troca me oferecer verdadeiramente companhia".

Solidão vem do sentimento de exclusividade.

terça-feira, outubro 17, 2006

Sina Rota


Por que alguns retornos parecem mais longos que suas partidas? Não desagradáveis, tampouco indesejáveis. Simplesmente longos.
Tempo demais longe do frio cortante que faz curva no Bigorrilho e do céu róseo no horizonte do décimo terceiro andar. Velhos conhecidos.

Só a distância para evidenciar a falta e legitimar a saudade. Sim, hoje percebo que também sinto falta do que não gosto. Talvez pela provocação que me produz o adverso. Talvez porque tempo e espaço sejam relativos.

Estar de volta é bom, agora livre e leve, e o que era saída hoje se configura entrada. Vejo que somente o longo caminho que percorri de volta poderia caber meu carinho do que aqui escrevi.
Quilômetros emocionais.

quinta-feira, outubro 12, 2006

Decreto

Numa noite clara de inverno, dessas de céu róseo com densas nuvens frias ocultando lua e estrelas, vento machucando a janela lateral do quarto, ela, em companhia de si, disse verbos para agir.


-Disse a si como decreto assinado com cera quente rubra.
-Disse que não mais se escreveria de forma linear.


Passou sessenta noites assim. Abstinência.
Alucinando febril, tremores periféricos, agitação motora, embotamento psíquico.

-Disse então que era mentira.


Mentiu a si mesma para clarear sua verdade, vontade, virtude, de que letras correm e escorrem como sangue. Paradas, coagulam.

segunda-feira, outubro 02, 2006

21g


E você? Fala-me sobre você. Não o que tem, que isso pode-se ver com certa aproximação.
Fala-me o que lhe falta.



[Broken - Seether / Amy Lee]