A vida segue porque os caminhos não param. Desnecessário correr porque tudo segue um tempo, um curso, um rumo. Olhar para frente pode ser o mais assustador e o mais leve por ser desconhecido o próximo chão, e desconhecer é a chave para os passos curtos.
As trilhas que abri não foram em busca de respostas. São as perguntas que geram outras tantas e atingem pontos que são estações sucessivas. Partidas, chegadas, encontros, reencontros e despedidas. Pode sempre haver uma palavra ou carta deixada em cada uma dessas estações, mas o que fica mesmo é a sensação de ter por ali passado, guardada numa retina andarilha em lado esquerdo.
A vida segue porque os caminhos não param. E nem são os caminhos que tanto importam. Cada um segue o seu. São os rumos que dão rumo. São os encontros que mudam estes.
Andar é deixar-se levar. Amar é deixar-se andar. Expor-se ao tempo, ao clima. Permitir-se estações porque a vida é cíclica. Ela vai e nos leva com ela, e nos traz de volta ao mesmo ponto que nunca é o mesmo, porque as retinas registram sensações mutáveis e se transformam à medida que fotografam.
A vida segue porque os caminhos não param. O mundo é um caminho único em que pessoas se encontram e se moram. Casa daqueles que não têm casa porque vivem em outras tantas. Só quem pára às vezes sou eu pelo respeito a outros rumos que seguem cruzando o meu. Só quem cala às vezes sou eu pela entorpecida personalidade do confiar nas retinas do desconhecido.
Não há meu rumo certo. Há meu rumo certeiro. Este é aquele que não pára ainda que eu pare, porque perpetua em outros rumos que não o meu. Como numa estação que acolhe e protege e deixa ir. A vida segue.
[Velho texto ainda atual. Sempre há caminhos.]