segunda-feira, agosto 30, 2010

Aqui


Passo horas, dias e semanas pensando em alguma forma de alcançar aquilo que, até no plano mais perfeito, parece inatingível. Procuro dentro de mim alguma palavra que lhe sirva de Verdade e, nesta busca, reviro-me, misturo-me, bagunço-me até, cansada, entregar-me ao fato de que, tentando te encontrar, me perco.



Existiria algo que eu pudesse fazer, dizer, escrever que te levasse a acreditar? A perceber? A compreender? A perdoar? A confiar? A sentir? A valorizar? A querer A voltar A amar?

Eu faria. Eu diria. Eu escreveria.

Eu iria até onde meu corpo alcançasse e minha alma suportasse se eu soubesse... ONDE ESTÁ VOCÊ.

Onde está você que me acompanha em cada tropeço do relógio, que me diz bobagens mesmo sem querer, que me inspira nos dias cinza de domingo, que canta comigo dentro e fora do tom, que me faz trans/sus-pirar por te aquecer de afeto, que me ilumina por te fazer sorrir, que me faz não querer sair da cama antes de lembrar todo sonho bom e que me faz dormir acreditando que cada dia nasce para ser melhor?

ONDE ESTÁ VOCÊ?

Já andei léguas, já nadei águas, já pisei solos dos mais variados, já revirei meus cômodos e incômodos, me escrevi, me borrei, me apaguei, me reinventei. E não há história que exista sem você, porque nenhuma delas tem fim sem algum começo.

ONDE ESTÁ VOCÊ?

Todo dia é uma noite que passo em claro. Toda voz é um trecho de alguma música. Todo passo é um caminho que me traz de volta, e sempre, àquele lugar que desconheço... onde você mora... dentro de mim.




terça-feira, agosto 24, 2010

Um a mais

(2006)



Todo sopro que apaga uma chama
reacende o que for pra ficar.



quarta-feira, agosto 18, 2010

In tens idade

"Amo-te não por quem tu és, mas por quem sou quando estou contigo."

_ Gabriel Garcia Márquez.


Olho em seus olhos, enquanto sinto sua mão deslizar em meus cabelos, sentindo o arrepio que ela provoca em meu corpo. Inclino suavemente meu rosto para mais perto do seu, de modo que minha boca fique colada na sua, e sem aproximações fortes encosto meus lábios nos seus deixando-te sentir o calor que me invade quando perto de ti. Devagar deslizo meus lábios até seu queixo levantando seu rosto suavemente, e desço minha boca até alcançar seu pescoço, sem quase encostar, respirando e inspirando-te bem devagarinho, fazendo meus lábios um pouco molhados passarem sobre a sua pele, enquanto minhas mãos passeiam em suas costas com leves e seguros movimentos, levando-as até perto da sua cintura e te abraçando com as mãos de quem te deseja com ardor e sentimento...

_ Eu, 2006.



Na real.

É fundamental perceber aquilo que lhe é importante numa relação. As características que você procura numa pessoa, as coisas que você busca num relacionamento, aquilo tudo que você precisa para conseguir atingir e oferecer (ao outro e a si mesmo) o melhor de si. Falo dessas coisas que te motivam, te impulsionam, te nutrem, e que te fazem bem simplesmente por senti-las.
Pessoas criativas, dinâmicas, divertidas, sensíveis, profundas... despertam e/ou estimulam o que de melhor há em mim.
Meu bom humor, minha vontade, minha alegria,
minha leveza, meu sorriso, minha poesia.
É realmente muito bom me sentir sincronizada com alguém... E absolutamente indescritível quando acontece.
Ter bem definido para si o que você quer ajuda e muito a identificar quando encontrar, mesmo se perdendo (ou não) em frios na barriga.

...

domingo, agosto 15, 2010

Que assim seja


Que eu possa abrir minha casa como uma garrafa de vinho. Que eu possa sair de casa como uma garrafa de champanhe. Que eu possa respeitar opiniões diferentes das minhas. Que eu não tente convencer ninguém a pedir desculpas. Que eu possa me desculpar antes do ódio. Que eu possa descobrir a altura dos postes com pipas. Que eu possa escrever cartas de amor de repente. Que eu possa viajar para adorar a distância. Que eu possa voltar pra dizer o que não tive coragem. Que eu possa comprar fiado minha própria fé. Que eu amarre meus cadarços como se fosse um terço. Que eu possa meditar enquanto tomo um capuccino. Que eu pense no meu amor ao atravessar a rua. Que eu pense na rua ao atravessar o amor. Que eu possa ouvir as cigarras de noite. Que eu possa passar embaixo de árvores. Que eu erre um caminho para descobrir novas paisagens. Que meu carro tenha cheiro de shampoo. Que eu ajude sem questionar. Que eu dê conselhos sem condenar. Que eu não exija demais dos outros. Que eu não exija demais de mim mesma. Que eu possa dançar de olhos fechados. Que eu possa aprender a tocar gaita. Que meus braços se confortem no abraço. Que eu possa aprender a dizer sim. Que eu possa tomar banho de cachoeira. Que eu aprenda a andar descalça. Que eu possa madrugar conversando com amigos. Que eu não acorde com o telefone tocando. Que eu não faça piadas de mau gosto. Que eu seja a vontade de rir. Que eu aprenda a preparar comidas saborosas. Que eu pendure roupas de criança no varal. Que eu assobie para chamar a alegria. Que eu possa chorar ao assistir filmes. Que eu aproveite a luz do abajur para ler de noite. Que eu não seduza para confundir. Que eu seduza para iluminar. Que eu mande flores para as pessoas. Que eu estenda a toalha da mesa como se fosse um lençol. Que eu não sacrifique a confiança pela covardia. Que eu use a voz como campainha. Que eu possa repor os pássaros em seus ninhos. Que eu encontre uma loja para consertar brinquedos. Que eu encontre uma loja para consertar cabeças. Que eu não mude de ideologia para conseguir um emprego. Que eu não precise gritar dentro de casa. Que os cachorros abanem o rabo quando me virem. Que eu possa devolver os livros que tomei emprestado. Que eu não peça a devolução dos livros que emprestei. Que eu tenha sempre caneta e papel à mão para anotar um pensamento. Que eu tenha dúvidas e as esclareça. Que a única corrente que eu use seja a do balanço para embalar um filho. Que o relógio pare de funcionar nos finais de semana. Que a música que eu estiver pensando toque no rádio quando eu o ligar. Que meu amor me responda os beijos com arrepios. Que eu tenha sempre muitas fotos para revelar. Que o correio não me traga somente contas. Que eu ande de patins sem cair. Que, se cair, eu encontre uma mão para me levantar. Que minha vida tenha muitas trilhas sonoras. Que no meu dedo sempre caiba um anel. Que a chuva caia leve nas manhãs de domingo. Que o céu não seja cinza por mais de um dia. Que eu não tenha pressa em esperar.

segunda-feira, agosto 09, 2010

Saravá




Inferno astral existe.






Mas passa.



quinta-feira, agosto 05, 2010

Sentidor

Tudo tem seus mistérios. Tudo o que já foi, é o começo do que vai vir. Quem quer aprender aprende. As coisas influentes da vida chegam assim: sorrateiras. Ladroalmente.

A gente só aprende bem, aquilo que não entende. E o que não existe de se ver, tem força demais, em certas ocasiões.

O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. O que Deus quer é ver a gente aprendendo a ser capaz de ficar alegre a mais, no meio da alegria, e inda mais alegre ainda no meio da tristeza! A vida inventa! A gente principia as coisas, no não saber por que, e desde aí perde o poder de continuação porque a vida é mutirão de todos, por todos remexida e temperada. O mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas, mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. Viver é muito perigoso; e não é não. Nem sei explicar estas coisas. Um sentir é o do sentente, mas o outro é do sentidor.


João Guimarães Rosa (1908-1967)
Trechos e citações do livro "Grande Sertão, Veredas".